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Kia Soul: o crossover cheio de estilo da marca sul-coreana


A “alma” do negócio é buscar a diversidade de propostas para criar nichos e alcançar clientes que antes não se sentiam bem nas categorias mais tradicionais. A Kia Motors partiu para algo parecido com um espírito semelhante, criando assim um crossover bonito, confortável e com espaço aceitável. Quem é ele? Kia Soul.

O projeto do Kia Soul surgiu na Califórnia, EUA, onde a Kia Motors possui um centro de desenvolvimento de produto. Mas, a ideia não veio de estudos automotivos que visavam atuar nesse segmento. Tudo começou com uma TV ligada num canal de documentários. Na tela, Mike Torpey – designer da empresa na época – assistia um documentário sobre a importância dos javalis na cultura sul-coreana.

Como num estalo, Torpey viu que dali poderia sair algo e esboçou o desenho de um carro com inspiração no animal. A caricatura que ele fez era a imaginação desse bicho com uma mochila nas costas, que representava o vigor e a disposição dos jovens sul-coreanos e isso impulsionou a ideia de força e capacidade em carro para uso urbano, que é o meio ambiente da futura geração que se desenvolvia.

O conceito originado do javali com mochila surgiu em 2005, mas ainda estava longe de virar realidade. De fato, o modelo que viria a ser um crossover compacto só ganhou vida comercial a partir de 2009, quando foi lançado mundialmente. O nome não podia ser mais inspirador: Kia Soul. Ou seja, uma alma carregada de disposição para dar valor aos que na cidade constroem o futuro.

Conceitos

O primeiro conceito do Kia Soul apareceu em 2006 e era baseado em outra ideia, o Kia Mesa. Nessa primeira aparição, ele tinha até portas traseiras de abertura invertida, mas as formas seriam aquelas que as linhas de montagem fariam. Foi apresentado e Detroit e chamou muito a atenção do público americano.

Dois anos depois, pouco antes de iniciar a produção, Peter Schreyer fez três conceitos baseados no protótipo do futuro Kia Soul, sendo estes o Soul Diva, elegante, o Soul Burner, mais apimentado e, por fim, o Eco-Soul, que era uma proposta interessante de híbrido. Este utilizava o motor Gamma 1.6 de 122 cavalos, além de um motor elétrico com 20 cavalos e freios regenerativos, mas o câmbio era CVT, algo que as versões comuns jamais ostentariam.

Já no mercado, o Kia Soul viu nascer o conceito Soul’ster em 2009, sendo este um roadster misturado com crossover, tendo duas portas e visual bem jovial, mas não passou disso. Com o uso de um bom marketing, o pequeno utilitário esportivo foi oferecido ao mundo e reciprocamente agraciado com diversos prêmios.

Kia Soul

Assim, surgiu o Kia Soul com uma proposta apaixonante de crossover urbano para atrair os jovens consumidores, ávidos por novidades que saíam do lugar comum. Com 4,105 m de comprimento, 1,786 m de largura, 1,610 m de altura e 2,550 m de entre-eixos, o modelo parecia caber em qualquer lugar e, na medida certa, atrair por suas formas robustas e fluídas ao mesmo tempo.

A frente era curvada e tinha faróis grandes e chamativos, assim como uma grade discreta com os dentes do tigre do designer alemão Peter Schreyer. Para quebrar essa fluidez característica de carros urbanos, o Kia Soul foi carregado com colunas A retilíneas e teto reto, reforçado por colunas C bem grossas e traseira truncada. Essa mescla de fluidez e solidez, chamou a atenção rapidamente.

Bonito, o crossover rapidamente caiu nas graças do consumidor americano, que ficou apaixonado pelas lanternas descoladas e visual parrudo sem ser grotesco ou bruto. Feito inicialmente apenas em Gwangju, Coreia do Sul, o Kia Soul chegava aos diversos mercados do mundo com um bom espaço interno, acabamento com boa montagem, apesar de muito plástico a bordo, mas com certa harmonia.

Seu porta-malas também era condizente com a proposta, assim como painel com mostradores analógicos grandes e console central ovalizado e proeminente. Os bancos em tecido tinha revestimentos aceitáveis e a habitabilidade era realmente interessante. Para montar tudo isso e apresentar ao cliente, a Kia Motors rapidamente se aproveitou de sua sinergia com a Hyundai e usou a plataforma PB.

Esta é a mesma do Hyundai i20 e do Kia Venga, uma minivan muito atraente que foi vendida na Europa. Com bom berço, o Kia Soul chegou a todos os cantos do mundo, inclusive no Brasil. Seu sucesso era tanto que, em 2010, ganhou duas séries especiais mundiais dignas de nota, reforçando assim os números que o embalavam em diversos lugares. Nesse mesmo ano, foi apresentado ao consumidor brasileiro no Salão do Automóvel 2010.

Flex logo de cara

Fazia cerca de um ano de seu lançamento, ainda exclusivamente feito na Coreia do Sul, e a Kia Motors apostava na diversidade com o Soul. Utilizando-se da experiência com a tecnologia flex no Brasil, mostrou no referido salão o crossover bicombustível. Sem planos para produção por aqui, onde uma questão legal envolvendo dívidas da extinta Asia Motors, comprada pela Kia, impedia investimentos, o modelo já era um sucesso.

Tanto é que Luiz Gandini, importador da marca sul-coreana para o Brasil, comprou as instalações de uma antiga empresa em Itu-SP, para construir ali uma linha de montagem para o Soul, mas o projeto esbarrou na dívida que o governo brasileiro cobrava da Kia Motors, já na casa dos bilhões de reais. Temendo ter que pagar a conta, o empresário desistiu.

Assim, o Kia Soul manteve sua versão importada e flexível, que vinha com o motor Gamma 1.6 16V DVVT com 122 cavalos na gasolina e 128 cavalos no etanol. Ele fornecia 16,0 kgfm no derivado de petróleo e 16,5 kgfm no vegetal. Antes, o propulsor entregava 124 cavalos e 15,9 kgfm. O modelo vinha tanto com câmbio manual de cinco marchas quanto automático com quatro velocidades.

Nos EUA, porém, o Kia Soul se rendia aos motores grandes com o 2.0 Beta de 142 cavalos. Na Europa, era o diesel uma obrigação e isso fez com que o crossover adotasse o 1.6 CRDi da família U com 126 cavalos. Com essas opções, o modelo estava em equilíbrio com os principais mercados. Em segurança, ganhara cinco estrelas no Euro NCAP e IIHS, dos EUA.

Em 2012, o Kia Soul recebeu atualização de meia vida que fez seu comprimento atingir 4,120 m. O crossover continuou vendendo muito e a Coreia do Sul já não dava mas conta da demanda. Assim, a produção se expandiu para Yangcheng, província de Jiangsu, na China, bem como para as cidades de Kaliningrado e Oskemen, respectivamente na Rússia e Cazaquistão. O Brasil continuou na importação…

Nova geração com mais estilo

Em 2014, a Kia Motors decidiu lançar uma segunda geração do Soul, adotando a política da marca de vida curta para suas gerações de produtos, que em média duravam cinco anos. Dessa forma, o crossover não foi uma exceção. Para manter o sucesso, a ordem era manter as linhas básicas do produto, não fugindo de sua proposta original, que tanto fez bem ao modelo.

A nova ideia de estilo nasceu com o conceito Track´ster, que dava formas mais convidativas ao crossover, que passava a impressão de um produto eletrônico, um gadget até, algo que ultrapassava a usabilidade de um automóvel e se convertia em uma extensão da vida das pessoas. As linhas quase animadas foram elogiadas pelo público, o que deu o sinal verde para o novo projeto.

Os faróis ficaram menores, mas ainda assim com um tamanho compatível para atrair os interessados em um visual descolado. As lanternas mais envolventes e sempre com fundo e bordas pretas, era um sinal de futurismo, assim como as novas formas dos para-choques, quase como de conceitos. As rodas de liga leve que pareciam de carros elétricos, também reforçaram essa intenção.

Compartilhando a plataforma com Hyundai Creta e i20, o Kia Soul de segunda geração teve sua estrutura reforçada para atender a rigidez da legislação e por isso ganhou mais aços de alta resistência, que alcançaram a proporção de 66% do total (35% de alta e 31% de ultra resistência), que aumentou a solidez estrutural em 28,7%. Isso o beneficiou nos testes de colisão de segurança nos EUA, Europa, Austrália e China.

Para reforçar sua proposta, a Kia Motors ajustou o tamanho do Sul com ampliação do entre-eixos de 2,550 m para 2,570 m. Na largura, passou a ter 1,800 m antes os 1,786 m anteriores. Mas na altura, perdeu 1 cm, ficando assim como 1,600 m exatos. No comprimento, apenas 2 cm foram adicionados. A suspensão dianteira ganhou subframe com quatro batentes e os amortecedores traseiros passaram a ser verticais, dando mais curso ao conjunto.

Nesta nova geração, o Kia Soul manteve a produção apenas na Rússia e Coreia do Sul, enquanto a geração anterior se manteve na China. O crossover adotou basicamente três motores: Gamma 1.6 (com versão flex mantida e a GDi com 140 cavalos para outros mercados), 2.0 Nu (sem injeção direta e para o mercado americano) e um diesel U 1.6 CRDi com 136 cavalos (para o mercado europeu, essencialmente). O câmbio automático já tinha seis marchas desde 2012 e foi mantido.

Se por fora, o Kia Soul “II” era bem atraente, por dentro ele mudava completamente. O painel ganhou linhas mais envolventes e revestimentos mais vistosos, dando melhor impressão de qualidade. A instrumentação analógica permaneceu, mas agora com mostrados nas extremidades e um display bem completo ao centro.

O volante de linhas internas arredondadas tem comandos circulares. Um console central com botão de partida e base redonda para a alavanca representavam essa nova imagem do Kia Soul, mais divertido e menos sóbrio. Os bancos ganharam uma padronagem muito mais rica e atraente, assim como o acabamento das portas em dois tons.

A série especial Red Zone de 2014, contribuiu para que no facelift de curta vida do crossover, ele ficasse ainda mais nervoso e jovem, adotando mais detalhes da carroceria em preto brilhante e ficando mais esportivo. Mas, antes disso acontecer, o Kia Soul passou por sua maior transformação ainda no mesmo ano. Não em termos de estilo, mas de proposta.

Eletrificado

Em maio de 2014, a Kia Motors apresentava uma nova variante do Soul, que mais parecia um conceito. Porém, era uma realidade de fato. Tratava-se do simplesmente chamado Soul EV. Era a versão 100% elétrica do crossover, que chamou a atenção do mercado internacional. O projeto remontava o ano anterior, após testes com baterias em versões comuns do modelo.

Apresentado inicialmente em Detroit, no mês de janeiro, o Kia Soul EV já estava destinado ao consumidor americano desde o berço. Conceitualmente, o projeto envolvia a impressão visual elegante e futurista, com cores leves e suaves, ausência de grade e um tom leve nos detalhes. A ideia era passar um visual limpo como a emissão zero oferecida pelo modelo.

Para move-lo, a Kia Motors substituiu o motor Gamma 1.6 GDi padrão por um motor elétrico de 109 cavalos e quase 29 kgfm de torque. Ele era alimentado por baterias de polímero com íons de lítio, que tinha densidade energética de 30,5 kWh, mas apenas 27 kWh era utilizáveis, tendo 192 células e pesando 277 kg. Com elas, que tinha 360 volts de tensão, o Kia Soul EV tinha autonomia de 150 km na vida real, medidos pela EPA americana.

Na Europa, o alcance era de 212 km, mas no ciclo NEDC, medido em laboratório. Na Coreia do Sul, a certificação local dava 148 km de autonomia. Com esse conjunto propulsor, o Kia Soul EV acelerava de 0 a 100 km/h em 9,8 segundos e velocidade máxima limitada a 145 km/h. Nos EUA, o modelo chegou custando US$ 33.700, menos que na Coreia do Sul, onde saía por quase US$ 40 mil, mas o governo dava 50% de incentivos diretos.

Exportando novos como usados

O Kia Soul EV não passou despercebido apenas por sua proposta de um carro limpo, mas também por uma controvérsia que expôs a imagem da Kia Motors no mercado europeu. O produto em si não tinha nenhum tipo de problema em 2015, mas quem estava em apuros era a própria marca. Diante da possibilidade de pagar multas de 70 milhões de euros por ano para cada grama de CO2 emitida acima da média, a empresa fez uma manobra.

Denunciada pelo jornal alemão Der Spiegel, a ação da Kia Motors foi exposta ao público, que ficou sabendo da importação e emplacamento de 2.044 unidades do Soul EV no mercado germânico. Até aí, tudo bem, os carros estariam sendo “vendidos”, mas na realidade não estavam. Conhecida no Brasil como rapel, essa estratégia foi (e provavelmente ainda é) usada por diversas marcas.

Por aqui, o rapel era usado para bater a cotar de emplacamentos do ano e assim satisfazer a matriz e ao mesmo tempo conseguir um bom posicionamento no ranking nacional. Mas, a bucha estourava em janeiro, pois as vendas de fato caíam vertiginosamente por causa do monte de carros emplacados em nomes de terceiros (que nem imaginamos quem seja, podendo ser empresas ou pessoas físicas). As lojas vendiam esses carros como usados, mas sem uso. O desconto no IPVA e documento grátis era um atrativo.

E o Kia Soul EV? Como a Kia Motors estava acima da média de CO2 da União Europeia, os sul-coreanos bolaram um plano para emplacar o máximo possível de unidades do modelo no mercado alemão, a fim de derrubar a média e evitar as multas. Em contrapartida, como já estavam registrados e emplacados, a marca os exportou diretamente para a Noruega, onde foram vendidos como usados sem sequer iniciar o hodômetro.

No país nórdico, altamente consumidor de carros elétricos, havia alta demanda pelo Kia Soul EV. Além disso, a Noruega não faz parte da União Europeia e como tal, não contabilizaria como efetivo para a queda na média de CO2 da marca dentro do bloco econômico. Apesar de polêmica, a ação foi declarada legal pelas autoridades alemãs.

Atualização e nova geração

Em 2018, o Kia Soul EV recebeu uma atualização das baterias, que tiveram a densidade ampliada para 31,8 kWh com 30 kWh aproveitáveis. O pacote passou a contar com 200 células e peso de 290 kg, com a tensão ampliada para 375 volts. Isso ampliou a autonomia para 182 km (EUA), 250 km (Europa) e 180 km (Coreia do Sul).

E o futuro? A Kia Motors está programando a terceira geração do Soul para 2019. Ainda pouco se sabe sobre o produto, mas ele é conhecido pelo codinome SK3 e deverá ter uma proposta mais sofisticada. Espera-se pela ampliação da capacidade energética do crossover com o pacote de baterias usadas no crossover Niro e do Stonic EV.

Além disso, devido à redução das emissões, o motor 1.0 T-GDi pode ganhar lugar no modelo, assim como câmbio de dupla embreagem com sete marchas. Por ora, o Kia Soul continua sendo um produto muito atraente em diversos mercados. Por aqui, o modelo é vendido com preço sugerido de R$ 89.990.

Apesar da nova geração, o crossover continua com o mesmo motor de antes no Brasil, o Gamma 1.6 Flex com até 128 cavalos, mas com torque ampliado para 16,3 kgfm na gasolina e 16,8 kgfm no etanol. O Kia Soul vem apenas com transmissão automática de seis marchas e em versão única, razoavelmente equipada, já que não possui controles de tração ou estabilidade, além de inexistir assistente de partida em rampa.

Mas, ele possui multimídia com tela de 8 polegadas, rodas de liga leve aro 18 polegadas, entre outros. Após 2019, o Kia Soul promete manter seu espírito jovial e atraente, conquistando mais clientes para a Kia Motors e quem sabe, venha a ser feito no Brasil ou no Mercosul mais adiante.

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