Manual definitivo do cinto de segurança: tudo que você precisa saber
Existe um item que é presença obrigatória em todos os automóveis colocados à venda no Brasil desde 1968, mas que ainda gera muitas dúvidas e polêmicas quanto ao seu uso e conservação. Estamos falando do cinto de segurança. Responsável por diminuir os danos causados aos ocupantes dos veículos em casos de colisão, muita gente ainda não sabe como mantê-lo em ordem e utilizá-lo da maneira correta.
Para acabar de uma vez por todas com suas dúvidas sobre o cinto de segurança, a Nakata preparou esse manual definitivo sobre o assunto. Aqui, você saberá o que é e como funciona o cinto de segurança, além de esclarecer por que ele deve ser usado por todos os passageiros do veículo.
Por fim, falaremos sobre a revisão veicular, que inclui a verificação dos cintos. Também abordaremos os modelos disponíveis no mercado e as curiosidades que envolvem o assunto.
O que é cinto de segurança?
O cinto de segurança é um dispositivo criado para proteger motoristas e passageiros de possíveis impactos violentos no interior do carro — ou mesmo o arremesso de pessoas para fora do veículo — em caso de colisões, contribuindo para reduzir os riscos de ferimentos na cabeça, no rosto, no pescoço e na coluna.
Diante de tamanha importância, o cinto de segurança é item obrigatório em praticamente todos os veículos motorizados. A exceção são as motocicletas. Nos automóveis, ele começou a ser utilizado em 1949, em um carro fabricado pela montadora Nash. Porém, devido à pouca importância dada ao dispositivo na época, ele era opcional no modelo.
Na década de 1950, depois de diversos estudos na área da neurociência, os cientistas perceberam que a maior parte dos traumas na cabeça das pessoas que sofriam acidentes automobilísticos era causada porque os passageiros ficavam soltos no veículo, suscetíveis a pancadas nas colunas do carro e no para-brisa.
Foi aí que os cintos de segurança começaram a ganhar importância. Nessa época, alguns fabricantes, como a Ford e a Chevrolet, também começaram a disponibilizar cintos de segurança em seus automóveis, mas ainda eram opcionais. O primeiro carro a vir com cinto de segurança de série foi o Saab GT750, em 1958.
Um ano depois, a Volvo desenvolveu o cinto de 3 pontos e equipou o modelo PV544. Como você verá adiante, esse tipo de cinto de segurança é bem mais eficiente do que os de 2 pontos. Ao longo do tempo, vieram outras novidades, como os modelos usados em competição, com até 6 pontos, o pré-tensionador, que deixa o cinto mais firme em caso de desaceleração brusca e até airbag de cinto, usado no Ford Fusion.
Qual a importância do uso do cinto de segurança?
Pense em um dispositivo barato, simples de ser usado e capaz de salvar vidas em caso de acidentes. Esse é o cinto de segurança. Como não valorizar um equipamento como esse?
Se você ainda não acredita, seguem alguns dados interessantes. Segundo o IST — Instituto de Segurança no Trânsito:
no caso de uma batida, um corpo solto em um automóvel mantém a mesma velocidade que estava até encontrar uma barreira. Ou seja, sem o cinto, em uma batida a 60 km/h, essa será a velocidade com que uma pessoa atinge o para-brisa;
o risco de morte em colisões reduz em torno de 50% quando o cinto de segurança é utilizado;
caso seja arremessada para fora do carro, a chance da pessoa sobreviver é dividida por 5, por estar exposta a outros riscos, como atropelamento, por exemplo;
em uma batida a 50 km/h, uma pessoa de 70 kg sofre uma força de 2.450 kg e não conseguirá se segurar sozinha. É como cair de uma altura de 10 metros;
o cinto de segurança é capaz de reduzir em até 40% o risco de traumatismo craniano, responsável por metade dos óbitos em acidentes automobilísticos.
Percebeu como é importante usar o cinto para dirigir com segurança?
Os passageiros do banco de trás precisam usar cinto de segurança?
Muitos motoristas já compreenderam a importância de usar o cinto de segurança e têm como hábito utilizá-lo sempre. Porém, as estatísticas mostram que os passageiros do banco de trás ainda não adotaram esse costume. Conforme apontou pesquisa do Ministério da Saúde, mais da metade das pessoas não utilizam o cinto quando estão no banco traseiro.
Provavelmente, isso ocorre em função da falsa sensação de segurança que o banco traseiro proporciona. Muitos imaginam que estão protegidos pelos bancos dianteiros e que estão longe do para-brisa. Porém, isso não é verdade.
Primeiro porque, como vimos, a força que uma pessoa recebe em uma batida é muito grande, algo em torno 35 vezes o seu peso. Com uma força tão grande, não há banco que possa pará-la. O resultado é o passageiro de trás esmagando a pessoa sentada à frente e se lesionando gravemente. Ou seja, a tragédia é ainda maior.
Um segundo ponto é que nem sempre o acidente é uma colisão frontal. No caso de batidas laterais e capotamentos, o cinto de segurança também protegerá todos os ocupantes de serem arremessados contra si, em direção a alguma parte do carro ou até mesmo para fora do veículo.
Para completar, veja mais alguns dados fornecidos pelo IST:
uma criança de apenas 30 kg, sem o cinto de segurança ou a cadeirinha apropriada, é lançada para frente com uma força de 1.050 kg em uma batida frontal a 50 km/h;
80% das mortes de pessoas que estavam no banco da frente são causadas por pessoas que não usavam o cinto de segurança no banco de trás.
O que diz a lei sobre o uso do cinto de segurança?
Como você viu, usar o cinto de segurança é de grande importância, pois pode ser a diferença entre sair vivo ou não de um acidente. Diante disso, deveria ser natural que todos utilizassem o dispositivo para se proteger, sem necessidade de obrigatoriedade.
Mas como isso não acontece, o poder público precisou agir. Afinal de contas, além da tristeza de perder vidas em acidentes, a falta do uso do cinto de segurança gera gastos enormes ao governo. Pense bem na estrutura envolvida; o socorro dos acidentados, as internações, o afastamento do trabalho, os gastos assistenciais etc.
Assim, ao tirar carteira de motorista, você com certeza aprendeu, mas não custa reforçar. A legislação brasileira determina que todos os ocupantes de veículos motorizados utilizem o cinto de segurança. As exceções são para as motocicletas e para os passageiros de transportes coletivos, em que há permissão para ficar em pé durante o trajeto.
É o que diz o art. 65 da Lei 9.503 de 23 de setembro de 1997, o Código de Trânsito Brasileiro:
Art. 65. É obrigatório o uso do cinto de segurança para condutor e passageiros em todas as vias do território nacional, salvo em situações regulamentadas pelo CONTRAN.
Mais à frente, no artigo 105, inciso I, o referido código também determina que o cinto de segurança é equipamento obrigatório:
Art. 105. São equipamentos obrigatórios dos veículos, entre outros a serem estabelecidos pelo CONTRAN:
I – Cinto de segurança, conforme regulamentação específica do CONTRAN, com exceção dos veículos destinados ao transporte de passageiros em percursos em que seja permitido viajar em pé;
Por último, o art. 167 determina a penalidade para quem se recusa a usar o cinto de segurança:
Art. 167. Deixar o condutor ou passageiro de usar o cinto de segurança, conforme previsto no art. 65:
Infração – grave;
Penalidade – multa;
Medida administrativa – retenção do veículo até colocação do cinto pelo infrator.
Sendo assim, caso seja multado por falta de cinto de segurança, o motorista perderá 5 pontos na carteira e terá que pagar R$ 195,23. Lembrando que, mesmo que haja vários ocupantes do carro sem cinto, a multa será apenas uma. Além disso, não basta o motorista utilizar o seu cinto e não exigir o mesmo dos demais. Ele será o responsável por todos no veículo.
Já o Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito, estabelecido pela Resolução 371 do Contran, com o objetivo de orientar os agentes de trânsito durante a fiscalização, determina que não há necessidade de abordar o condutor para a emissão do auto de infração por falta de utilização ou do uso inadequado do cinto de segurança, tanto por parte do motorista como dos passageiros.
A exceção é quanto aos veículos fabricados até 1984, quando ainda era permitido o cinto de segurança subabdominal na dianteira. Esses devem ser abordados antes de serem autuados. Por falar em uso inadequado do cinto de segurança, saiba que isso também é proibido, de acordo com o art. 01 da Resolução 278 do Contran:
Art. 1º – Fica proibida a utilização de dispositivos no cinto de segurança que travem, afrouxem ou modifiquem o seu funcionamento normal.
Como funciona o cinto de segurança?
Agora que você já está consciente da importância do cinto de segurança, bem como da obrigatoriedade de utilizá-lo corretamente, chegou a hora de saber como esse equipamento funciona. Trata-se de um funcionamento relativamente simples, mas bem interessante.
A primeira coisa que se deve saber; para o cinto funcionar corretamente, ele precisa dissipar aquela força enorme que o seu corpo recebe durante uma batida. Isso é conseguido por meio da faixa de material flexível que passa pelo tórax e cintura e que está fixada em locais bastante resistentes no automóvel.
Porém, o cinto de segurança é mais do que isso. Possui um mecanismo interno, localizado na coluna B do carro, que é determinante para aumentar a sua eficácia. Esse sistema é composto por uma bobina e uma mola, que faz o excesso de cinto se enrolar como um carretel, mantendo a faixa de tecido bem justa ao corpo da pessoa.
Além disso, essa bobina possui dentes semelhantes a uma engrenagem, além de uma espécie de pêndulo. Caso o carro desacelere bruscamente ou o cinto seja puxado com força, a inércia faz esse pêndulo se encaixar nos dentes da bobina, travando o seu movimento. Assim, o corpo da pessoa se mantém firme ao banco, na posição mais segura.
Nos automóveis mais modernos, há também o pré-tensionador, que é um mecanismo ligado ao sensor do airbag. Caso esse dispositivo determine o acionamento da bolsa inflável, ele envia um sinal também para o pré-tensionador, que tornará o cinto de segurança mais justo naquele momento, aumentando a proteção.
Qual é o uso correto do cinto de segurança?
Depois de tudo isso que você aprendeu sobre o cinto de segurança, chegou o momento de entender a maneira correta de utilizá-lo. Além de extrair o máximo de eficiência do equipamento, você ainda evita multas de trânsito, pois o uso incorreto, como vimos, também é motivo para autuações.
Para que o cinto de segurança seja usado corretamente, o primeiro passo é ajustar o banco, caso esteja na dianteira. Ao fazer isso, evite colocar o encosto muito para trás. O ideal é que a região dos ombros encoste ou fique bem próxima ao banco. Ajuste também o assento, pois terá dificuldades de fazer isso depois de afivelar o cinto.
Com o banco ajustado, puxe a correia do cinto de segurança de maneira que ele passe sobre o seu ombro e tórax. Afivele a lingueta até escutar e sentir o clique. Ao fazer isso, tenha o cuidado para não torcer a correia, pois isso diminui sua eficácia. Depois de afivelado, verifique a regulagem de altura do cinto, pois ele não pode pegar no pescoço, mas sim no ombro.
A parte de baixo do cinto deve estar posicionada na região dos quadris, e não sobre o estômago, como é comum de se ver, principalmente por quem senta muito longe do encosto do banco. Esse cuidado é de extrema importância, pois evita o efeito submarino, que ocorre quando, em uma colisão frontal, a pessoa escorrega no banco e passa por baixo do cinto, ficando sem proteção.
Por último, confira se a correia está bem justa a seu corpo e a toda a extensão do cinto. Caso não esteja, a recomendação é puxar um pouco perto do ombro e soltar. Isso fará a mola interna recolher a correia e eliminar as folgas. Se mesmo assim o cinto de segurança continuar folgado, provavelmente há problemas no seu mecanismo, que deverá ser verificado em uma oficina.
Para os carros que ainda têm cintos de apenas dois pontos, a recomendação é a mesma. Ele deve passar pelos quadris. Como ele não possui mola para retrair o cinto, deve ser ajustado para ficar com uma folga de 3 dedos, no máximo.
Resumindo:
jamais utilize qualquer artifício para aumentar a folga no cinto, como presilhas ou pregadores;
nunca passe o cinto por baixo do ombro. O correto é por cima, logo abaixo do pescoço;
não deixe a correia torcida;
regule o banco corretamente;
ajuste o cinto para passar nos quadris, não na barriga.
Se a mulher que utilizará o cinto de segurança estiver grávida, as regras são as mesmas, independentemente do tempo de gestação. O cuidado deve ser maior com a parte de baixo do cinto, que deve ficar sempre abaixo da barriga.
Para encerrar esse tópico, tenha esses cuidados mesmo ao andar em carros de amigos, táxis ou veículos de aplicativo. Caso o carro não apresente o cinto de segurança nas devidas condições de uso ou estejam escondidos atrás do banco traseiro, peça ao motorista que os disponibilize corretamente, para a segurança de todos.
Quais são os tipos de cinto de segurança automotivo?
No decorrer deste post, você deve ter percebido algumas expressões diferentes, como “3 pontos” e “subabdominal”. Ficou sem saber exatamente o que é isso? Chegou a hora de esclarecer suas dúvidas.
Cinto de segurança de 2 pontos
A quantidade de pontos mencionada no nome do cinto de segurança corresponde ao número de locais de fixação no automóvel. Logo, um cinto de 2 pontos tem 2 locais de fixação, um em cada ponta da correia.
Esse foi o primeiro tipo de cinto de segurança a ser utilizado em automóveis. Até o final da década passada ainda era muito usado nos bancos de trás dos carros mais simples. Porém, chegou a equipar os automóveis também na dianteira, mas isso até os anos 80. Após 1984, o cinto de 3 pontos passou a ser obrigatório na frente.
O cinto de 2 pontos também é chamado de subabdominal, devido a sua posição mais comum, logo abaixo do abdômen. Porém, havia uma variação, que chegou a ser usada antigamente, que passava pelo ombro, mas sem a parte sobre os quadris. Essa era mais comum nos assentos dianteiros.
Com o passar do tempo, esse tipo de cinto foi sendo abandonado, pois a sua eficácia é bem menor, se comparada ao de 3 pontos, pois a parte torácica continua desprotegida. Além disso, ele proporciona menos pontos de dissipação da força em colisões. Atualmente, os carros fabricados no Brasil vêm com esse tipo de cinto apenas para o ocupante do meio do banco traseiro.
Cinto de segurança de 3 pontos
Como você deve ter imaginado, o cinto de 3 pontos possui um local a mais de fixação no carro. São dois de um lado, sendo um superior, próximo ao ombro e outro inferior, perto do assento, e mais um ponto na parte inferior. Assim, o cinto de 3 pontos lembra a letra “Y” quando utilizado.
Sua eficácia é bem maior, pois ele corrige as duas falhas do cinto de dois pontos: além dos quadris, também protege o tórax e deixa a pessoa mais firme no banco. Como já se sabe, o cinto de 3 pontos foi desenvolvido pela Volvo e chegou ao Brasil em 1959, no modelo PV544.
Hoje, é o tipo de cinto mais utilizado nos automóveis em todo o mundo. No Brasil, a partir de 2020, todos os carros deverão ser fabricados com o cinto de 3 pontos para todos os ocupantes.
Cinto de segurança de 4, 5 e 6 pontos
Esses tipos de cinto de segurança são mais voltados para competições. Os de 4 pontos são encontrados em jipes utilizados para trilha pesada e em carros adaptados para arrancadas e track days. O objetivo dele é oferecer uma proteção maior em capotamentos, pois segura os dois ombros.
Já o cinto de 5 pontos segura mais ainda a pessoa. Ele possui um ponto de fixação entre as pernas do ocupante, lembrando os cintos usados nas cadeirinhas infantis. Esse tipo de cinto é encontrado em alguns carros de corrida.
Por último, há o cinto de segurança de 6 pontos. Esse oferece proteção máxima e é encontrado apenas em automóveis de competição que alcançam velocidades extremas, como os da Nascar. A diferença em relação ao de 5 pontos está na fixação extra entre as pernas, aumentando a proteção.
4 curiosidades sobre o cinto de segurança
Para completar nosso manual do cinto de segurança, nada melhor do que algumas curiosidades sobre esse dispositivo.
1. Brasil foi pioneiro
Por incrível que pareça, o Brasil foi o primeiro país do mundo a obrigar os fabricantes de automóveis a instalar cintos de segurança em seus veículos. Isso foi em 1968. O interessante é que o projeto dessa lei também falava da instalação de alças manuais de segurança, algo conhecido por quem já andou de Fusca.
Apesar da obrigatoriedade de os carros serem fabricados com cinto de segurança, o brasileiro não se acostumou a usá-lo. Porém, em 1989 o uso do cinto de segurança passou a ser obrigatório, mas apenas nas rodovias. Já em 1998, ao entrar em vigor o atual Código de Trânsito Brasileiro, a utilização do cinto de segurança passou a ser compulsório em qualquer via pública e por todos os ocupantes do carro.
Antes disso, na cidade de São Paulo havia uma lei municipal que obrigava o uso dos cintos de segurança na dianteira, mesmo em perímetro urbano. Essa lei foi sancionada em 1994 pelo então prefeito Paulo Maluf.
2. Nos aviões primeiro
Os primeiros meios de transporte a utilizarem cintos de segurança foram os aviões. Antigamente, as aeronaves não eram tão estáveis como hoje. Quando passavam por turbulências, o balanço era grande. Para proteger os passageiros, foram instalados os cintos.
3. O cinto diminui o cansaço ao dirigir
Pode parecer estranho, mas é verdade. Ao usar o cinto de segurança, a pessoa se vê obrigada a adotar uma postura mais ereta para dirigir. Isso evita dores lombares e melhora a circulação sanguínea e a oxigenação muscular.
4. Manutenção do cinto de segurança
Você sabia que os cintos de segurança precisam de manutenção? Para que a proteção seja máxima, é preciso ficar atento ao funcionamento e à aparência dos cintos. Caso seja necessário, deve-se levá-lo a uma oficina para maiores verificações.
Os problemas mais comuns são os danos ao tecido da correia, problemas no fecho e na mola de retração. Sendo assim, verifique sempre se a correia apresenta sinais de desgaste ou início de ruptura em seu tecido. Veja também se o fecho trava e destrava com facilidade e se a mola não está deixando o cinto frouxo.
Por último, caso o automóvel sofra uma colisão, é importante solicitar a checagem dos cintos na oficina. Por sofrer uma carga muito forte durante a batida, algum componente interno pode ter sido danificado.